Resistir por meio do hobby
Em tempos de produtividade extrema, dedicar-se a um passatempo é um ato de coragem e cuidado
Por: Redação Skylar
30 de junho de 2025

Em tempos de produtividade extrema, dedicar-se a um passatempo é um ato de coragem e cuidado.
Tenho para mim que os hobbies carregam um pouco da personalidade de quem os escolhe. Por exemplo, eu, Giulia, tenho como hobby a leitura e a escrita. Sou formada em jornalismo. O que isso diz sobre mim? Sobre nós? Sobre a nossa história com os hobbies?
Fato é que a escolha de um hobby pode vir em qualquer momento da vida: alguns te escolhem (ou você os escolhe?) logo na infância, outros transformam-se em um refúgio entre os dias cansativos de trabalho ou uma espécie de reconexão na vida de uma pessoa aposentada.
Quando pesquiso “hobby” no Dicionário Priberam, encontro a seguinte definição:
“Atividade favorita que serve de derivativo às ocupações habituais. = PASSATEMPO”
Mas, ao pesquisar a palavra no plural “hobbies”, encontramos diversas matérias do tipo “9 hobbies femininos”. O que define um questionamento: hobby tem gênero?
“Ao mesmo tempo que esse debate pode ser entendido como uma barreira, esses hobbies podem quebrar barreiras, romper com esses estereótipos”, reflete a antropóloga Suzana Ramos Coutinho.
Felizmente, em 2025, superamos barreiras de gênero e atualmente, diversas pessoas envolvem-se nos passatempos mais variados. Afinal, hobby não tem gênero.
É o caso do Product Manager, Victor Czernisz, que conta que “a cerâmica é um exercício que faz estar no momento presente, deixando de lado a avalanche de informações e o ritmo acelerado imposto pelo mundo contemporâneo”.
“Para mim, o ato de criar é uma expressão autêntica de quem eu sou, e acredito que essa conexão com a criação é inerente a qualquer homem”, complementa Victor.

Peças em cerâmica – Arquivo pessoal – Victor Czernisz
Para além da questão do gênero, os hobbys trazem função importante para a saúde e qualidade de vida. Ter um passatempo é ter um momento unicamente dedicado a você, aos seus interesses, ao portador do hobby. E em pleno século 21, quando a necessidade por produtividade esmagadora acomete a todos, parar, mesmo que por uma hora, é um ato de coragem e rebeldia. O autocuidado e a preservação também são essenciais para a continuidade de nossas funções.
“O hobby proporciona um tempo de qualidade com si mesmo ou outros (incentivando a socialização). Não há autocobrança referente a qualidade ou prazo do que está sendo feito, deixando a ação ainda mais prazerosa”, é o que diz a psicóloga Juliana Dutra.
Hobbies para mulheres
Quando observamos o tema sob uma perspectiva feminina, notamos que os hobbies recomendados para mulheres são majoritariamente relacionados a atividades delicadas, suaves e de cuidados.
Esse diálogo passa por um estreitamento ao refletir a maternidade e os hobbies. Na fase materna, passatempos e tempo livre são tratados com culpabilidade pela sociedade.
“Uma questão que pesa nessa conversa sobre os hobbies é aquilo que não é permitido às mulheres que são mães, que é inadequado socialmente, que é malvisto”, confirma Coutinho.
Para muitas mães, os hobbies são momentos de conexão interior em meio a períodos de desgaste e por isso o reconhecimento dos benefícios dos passatempos se mostrou contundente nos últimos anos.
Legendagem e satisfação
Muitas pessoas superam esses obstáculos — de gênero, de foco voraz em produtividade e até de receio em começar algo novo — através de vídeos em redes sociais como Youtube, Instagram e TikTok.
E a legendagem desempenha um papel essencial nessa caminhada em busca de um tempo prazeroso, aumentando o alcance e a acessibilidade dos vídeos de hobbies. Além disso, traz comodidade para visualização em ambientes mais silenciosos.
Em tempos de busca por extremo rendimento em todas as áreas da vida, um hobby pode se transformar em um descanso merecido para a mente e um momento de conexão profunda.
Jornalista e Mestre em Educação, Arte e História da Cultura. Fala pelos cotovelos e adora escrever sobre arte, moda e cultura.